top of page

"O Choque do Futuro" de Alvin Toffler: uma mudança que nos alcançou!


Muitos são os pesquisadores que se destacaram no ramo da Administração de Empresas no século XX. Atualmente, encontramos diversos profissionais cujo foco de atuação faz com que se classifiquem como "Futurólogos" ou “Futuristas”, pesquisando e ambicionando antecipar com certa segurança o que deve acontecer no mundo nas próximas décadas, tendo neste rol uma grande quantidade de autores influenciados pelas perspectivas não sustentáveis da nossa sobrevivência neste planeta. Mas isso não envolve nenhuma habilidade paranormal ou extrassensorial. Ao contrário, envolve conhecimento de história e lógica.

Poucos, porém, conseguiram antever o futuro da forma pela qual conseguiu Alfin Toffler. Ele tinha como parceira a sua esposa - Heidi Toffler - e, juntos, escreviam sobre as perspectivas do futuro. Sua formação era humanista - doutorado em Leis, Letras e Ciências - e estudava o impacto da tecnologia na nossa sociedade.

Em 1970, quando ainda não se falava em Sociedade da Informação, ele estudou o movimento que, naquele momento, era chamado de segunda Revolução Industrial. Fazendo um comparativo histórico, ele analisa a sociedade, a economia e a tecnologia na busca de antever o que acontecerá com a humanidade nas décadas seguintes.

Já naquela época conseguiu enxergar as pessoas por serem “moldadas pela mecanização e pela educação de massa” (Toffler, Alvin; O Choque do Futuro; página 43) e impactadas diretamente pela “Transitoriedade”. Este questão é tão importante para o seu trabalho que dedica um capítulo inteiro do livro a ela, descrevendo as incontáveis “coisas” descartáveis que poderíamos ter no futuro daquela época que já não precisariam dispor de estruturas físicas estáticas. Chegou a mencionar as escolas descartáveis, descritas como estruturas transitórias estabelecidas em vagões de trens. A ideia da Educação a Distância, totalmente virtual e digitalizada, não era concebida nos formatos atuais, apesar de já imaginada como algo possível. E os seus conceitos já eram vislumbrados pelo autor, demonstrando a necessidade de chegar onde as estruturas tradicionais – caras e imutáveis – não conseguiriam chegar.

Ao ler o livro de Toffler nos dias atuais, chega a ser engraçado ler o capítulo em que ele descreve o “Playground Portátil” (Toffler, Alvin; O Choque do Futuro; página 59) onde ele concebe a criação de áreas desmontáveis de diversão para crianças. Talvez a antecipação dos brinquedos infláveis gigantescos que se movem de cidade em cidade com a segurança e a diversão de estruturas de ferro tradicionais.

Será que Toffler conseguia imaginar a existência de Cilos móveis como hoje são concebidos, permitindo as super produções de grãos e o seu armazenamento em grandes “sacos” portáveis?

Essa transitoriedade cria um novo paradigma, segundo o autor, que nos tira de um mundo que atende às prerrogativas da Economia da Permanência e nos joga no mundo da Economia da Transitoriedade.

E isso impacta, diretamente, em tudo o que acreditamos sobre família, sociedade, religião, educação, enfim, agrupamentos sociais que desenvolvem o nosso mundo. Toffler já antevia que não poderíamos nos fechar a ideias pre-concebidas sobre essas questões e que um mundo fechado em paradigmas rígidos, poderia limitar o seu crescimento e sucesso.

No seu livro posterior – “A Terceira Onda” – ele descreve a evolução das mudanças do mundo começando por um elemento singular: a semente. O gênio que criou a agricultura há mais de 10 mil anos não poderia imaginar que onda de mudanças ele começou a criar. A primeira onda era a Agricultura. Plantar uma semente, colher e alimentar sua família, sua comunidade e, posteriormente, ganhar dinheiro com isso, mudou radicalmente a nossa forma de viver. Há pouco mais de 300 anos, surgiu a segunda onda através da Revolução Industrial. E esta onda mudou a nossa forma de criar riqueza. E como tecnologia e cultura andam juntos, o mundo mudou! Da recreação em massa às armas de destruição em massa. Mas, sim, mudamos a forma como vivíamos. Porém, uma nova mudança surgiu depois, mudando o foco da produção de riqueza das “coisas” para as “ideias”. O conhecimento passa a ser a nossa maior riqueza. Entramos na Terceira Onda!

Neste cenário de mudança contínua, a maior de todas as habilidades exigidas das pessoas nascidas no mundo industrial é a adaptabilidade. Ser capaz de se ajustar a novos parâmetros em uma velocidade cada vez maior é o que define quem permanece e quem perece nesta nova sociedade.

Justamente o caos causado por esta pressão, cria o evento que é título do livro: o “Choque do Futuro”. Tofllfer descreve esta transitoriedade como a situação ocorrida “criando uma ambiência tão efêmera, tão estranha e tão complexa que passa a ameaçar milhões de seres humanos com um fracasso de adaptação” (Toffler, Alvin; O Choque do Futuro; página 268)

A super-estimulação ambiental que ele menciona - apesar de prever a clonagem, a internet e os computadores – não estava influenciada pelos impactos que a nossa dependência digital teria sobre o cotidiano. Antes trabalhávamos das 8h às 18h nas empresas. Hoje trabalhamos full time em nossos celulares, acompanhando a cada mensagem, a cada postagem, a cada mudança no desempenho de vendas através de um aparelho de poucos gramas que busca as informações nas nuvens.

O tempo entre o que é inventado e o que é utilizado socialmente é quase que instantâneo. O que se cria hoje, pode ser utilizado hoje mesmo, afinal, estamos na era da Informação, digitalizado e virtual. As mudanças, neste cenário, são ainda mais impactantes.

Ele não sugere uma interrupção da mudança para podermos lidar com este choque, mas, ao contrário, mudar de forma diferente. Assumindo o controle da mudança conseguiríamos moderar o impacto do choque.

Talvez ao imaginar que poderíamos controlar o ritmo da mudança, concebia que a tecnologia estava no auge da sua evolução.

Alvin Toffler definia mudança como sendo “o processo pelo qual o futuro invade nossas vidas”.

E justamente é este fator – a mudança – que traz uma grande oportunidade para os profissionais da Administração, pois é somente através da gestão que os seus impactos poderão ser controlados. Seja na administração pública, seja na administração de empresas privadas, a gestão da mudança se tornou um dos grandes diferenciais para que se utilize as benfeitorias advindas da tecnologia em prol do desenvolvimento social e humano.

Kátia Cristina de Magalhães Marcolino

Com base no livro: “O Choque do Futuro” de Alfin Toffler, de 1970 (Editora Record, 6ª edição)


bottom of page